Vaginismo, um tema ainda evitado e camuflado, tanto por parte das mulheres como pelos profissionais de saúde.

Mas afinal o que é o vaginismo do que tão pouco se sabe e ainda menos se fala? Nos anos 90, ainda havia investigadores que tinham dúvidas da sua existência, atualmente, não é dos temas mais investigados, mas existe evidência sólida que confirma a sua existência e a sua complexidade, não é um problema apenas físico. 

A prevalência do vaginismo, é muito difícil de avaliar, há estudos que falam em 4,2% da População portuguesa, mas em contexto clínico, são cerca de 9% (Peixoto & Nobre, 2014). Esta discrepância, acontece, tanto devido a inclusão do vaginismo, dentro do mesmo saco que a dispareunia, a dor na penetração, como ainda pela falta de procura de diagnóstico e tratamento por parte das mulheres que têm vaginismo.

O vaginismo é a dificuldade persistente e/ou recorrente da mulher em permitir a penetração.

O vaginismo é a dificuldade persistente e/ou recorrente da mulher em permitir a penetração com o pénis, um objeto (tampão, espéculo, vibrador, etc.) ou apenas um dedo, independendo do desejo da mulher em o fazer, de existir desejo em realizá-lo, existe um contração involuntária dos músculos do pavimento pélvico e a sensação de sofrimento por antecipação em realiza-lo, as mulheres com vaginismo referem que ficam num estado de ansiedade, calafrios, etc, algo que não pode ser controlado pela mulher.

O vaginismo é desencadeado maioritariamente por um mecanismo psicossomático, afetando a saúde física e psicológica, por isso o tratamento passa também, por uma equipa multidisciplinar, um ginecologista especialista na área da sexualidade, um terapeuta sexual e um fisioterapeuta. A consciencialização do pavimento pélvico e o relaxamento, são as bases de tratamento da fisioterapia.

Quais as causas do Vaginismo?

E quais as causas? Uma pergunta frequente com que me deparo, “mas porque é que me aconteceu a mim?”.  O início desta condição pode ser emocional/psicológica, como por exemplo uma experiência sexual não prazerosa, o receio de uma gravidez não desejada, que por vezes começa logo na adolescência, mas as consequências mantêm-se.

Menos comum, mas por vezes, acontece também no pós-parto, uma fase exigente a nível físico e emocional, o desejo sexual afetado, existe desconforto sexual, e se for maior que o suportável, pode tornar-se num vaginismo secundário.  Se tiver dor na relação sexual? Não tenha relações sexuais! Procure soluções.

A menopausa, é outra fase, em que o vaginismo secundário, pode acontecer, existindo mesmo alterações físicas, emocionais, uma diminuição da lubrificação, diminuição de libido, atrofia vaginal, por consequente, dor na penetração e mesmo durante a relação sexual. Uma fase em que a comunicação com o companheiro é fundamental e uma resolução destes problemas também. Uma consulta de fisioterapia pélvica devia ser obrigatória nesta fase, acompanhadas sempre por um ginecologista.

Como tratar o Vaginismo?

A segunda pergunta mais comum, “como trato disto?”, como referi acima, existem várias causas e por isso, existem também vários tratamentos. Na maioria dos casos, tem de ser acompanhadas em psicologia, ginecologia, fisioterapia, portanto passa sempre por um trabalho de uma equipa multidisciplinar.

Existe uma contração involuntária dos músculos do pavimento pélvico, um receio em sentir dor, e por muito que a mulher esteja excitada, bem estimulada, sinta atração pelo seu parceiro, não consegue controlar.

A musculatura do pavimento pélvico é responsável por contrair e relaxar, durante o ato sexual, após a mulher sentir-se excitada, os músculos do pavimento pélvico deviam relaxar, de modo a permitir a penetração do pénis sem desconforto e sentindo prazer. Nos casos de vaginismo, acontece o oposto, existe uma contração involuntária dos músculos do pavimento pélvico, um receio em sentir dor, e por muito que a mulher esteja excitada, bem estimulada, sinta atração pelo seu parceiro, NÃO consegue CONTROLAR, e não entra aí nem um dedo, em alguns casos.

Na avaliação do pavimento pélvico, em que por vezes no 1º contacto, não existe uma palpação interna do pavimento pélvico para não causar dor à paciente, é avaliado a causa da condição, se existe uma hipoatividade, hiperatividade ou incoordenação dos músculos do pavimento pélvico.

Não existe um protocolo para seguir nestes casos, mas de modo geral, são dadas várias estratégias de consciência corporal, é muito comum, em casos de vaginismo, a mulher passar grande parte do dia, a contrair o pavimento pélvico sem necessidade e sem ter consciência disso, porque não sabe como relaxá-lo. São trabalhados trigger points, quando existem, o ensino e a realização da massagem perineal, para um relaxamento da musculatura, como a realização de vários alongamentos e técnicas de relaxamento para os músculos do pavimento pélvico e os que podem estar relacionados com a condição.

Para além disso, conforme, a tolerância da mulher, muito gradualmente, sem entrar na dor/desconforto, é trabalhado a introdução de 1 dedo (por vezes começamos só por 1/3 e está tudo bem), até chegarmos a introdução de 2 dedos, sem desconforto, nem sensação de ansiedade. Na minha prática clínica, quando já existe conforto em introduzir 1-2 dedos, começamos o trabalho com vibrador. Embora já existam dilatadores com uma textura mais agradável, a introdução de um dilatador é pouca prazerosa, preferindo aconselhar nestes casos o uso de vibradores.

O tratamento do vaginismo é uma jornada longa, que exige muita dedicação da mulher, comecei este blog com um tema provavelmente polémico, mas não é uma condição assim tão incomum e aos olhos da sociedade ainda é.

É também um tema que me deixa pensar, quando tenho utentes de 30, 35, 38 anos que me procuram porque nunca conseguiram concluir a penetração, felizmente encontraram outros métodos de terem uma vida sexual feliz, mas sempre incompleta, mas agora gostavam de terem filhos e não conseguem de forma natural. Espero que com o tempo, se torne num tema que se possa falar livremente, não haja vergonha em procurar ajuda, e saibam que existem soluções, que podem ser procuradas logo na adolescência. 

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